Construção civil precisa de 1,4 milhão de trabalhadores até 2027. Mas quem vai formar esse exército?
- Blog do Jobs

- 15 de set.
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O setor cresce acima da média nacional, mas enfrenta uma equação perigosa: falta de engenheiros, mão de obra de base escassa e queda na formação técnica. O desafio não é apenas contratar, é garantir que haja gente preparada para sustentar esse crescimento.

A indústria brasileira terá de qualificar ou requalificar 14 milhões de profissionais até 2027, segundo a CNI. E a construção civil carrega uma fatia significativa dessa conta: 1,4 milhão de trabalhadores, o equivalente a 10% da demanda nacional.
Não é por acaso. O setor segue aquecido: em 2024, cresceu 4,3% no PIB e deve avançar mais 2,5% em 2025, índice superior ao de boa parte da economia. Mas aqui está o ponto crítico: crescimento não se transforma em obra pronta sem engenheiros e sem equipes técnicas bem estruturadas.
A escassez já se tornou rotina. Empresas como a Motiva (ex-CCR), responsável por obras no Sul, tiveram de importar trabalhadores de outros estados para manter cronogramas.
O diagnóstico é claro: faltam engenheiros, faltam mestres de obra, faltam pedreiros. E a crise já se arrasta há 18 meses sem perspectiva de alívio.
Os números falam por si: em 2018, o Brasil formava 128,9 mil engenheiros por ano. Em 2023, foram apenas 93 mil. É uma redução de mais de 25% justamente quando a demanda cresce. O resultado é um gargalo que ameaça desde grandes projetos de infraestrutura até reformas residenciais.
E não é apenas sobre engenheiros. A base técnica também sofre: cursos de formação profissional seguem com baixa procura, muitos jovens migram para o digital, e o setor perde atratividade ano após ano.
O problema não é a remuneração. Um engenheiro recém-formado recebe entre R$ 2,5 mil e R$ 6 mil. Já um pedreiro experiente pode chegar a R$ 15 mil, e um mestre de obras ultrapassa os R$ 20 mil por mês.
Ou seja, dinheiro existe. O que falta é um plano de carreira estruturado que mostre progressão clara e segurança no longo prazo. Sem isso, muitos profissionais abandonam o setor ou migram para funções onde enxergam futuro mais previsível.
De janeiro a abril de 2025, a construção criou 135 mil novos empregos formais. O setor ficou atrás apenas de serviços, comércio e indústria, superando até mesmo a agropecuária. Há demanda, há vagas, há oportunidades.
A questão é: quem vai ocupá-las?
O que pequenas e médias empresas precisam enxergar
Se o problema não é só nacional, mas também local, pequenas e médias construtoras não podem esperar soluções vindas apenas de governos ou universidades. É preciso agir:
Investir em capacitação interna: formar pedreiros em mestres de obra, treinar equipes técnicas e preparar líderes dentro da própria empresa.
Apostar em programas de retenção: salário competitivo resolve o curto prazo, mas só cultura e plano de carreira seguram bons profissionais no longo prazo.
Abrir espaço para jovens aprendizes: aproximar as novas gerações do setor desde cedo é vital para repor a base que está sumindo.
Revisar a gestão de pessoas: contratar no improviso aumenta custos e rotatividade. Planejar o quadro de médio e longo prazo virou questão de sobrevivência.
A construção civil gera empregos, movimenta a economia e tem futuro promissor. Mas, sem gente preparada, o crescimento corre o risco de travar.
A pergunta não é mais “se” vamos precisar de 1,4 milhão de trabalhadores até 2027. A pergunta é: quem vai assumir a responsabilidade de formá-los?